“Vida em comunidade” é uma expressão que para muitos
(inclusive foi para mim durante muitos anos) representa um grupo de pessoas que
vendem tudo o que tem, começam a viver juntos, compartilhando todas as coisas,
inclusive a sua individualidade. Seria uma espécie de local glorificado onde
ninguém é dono de nada e sendo assim, não tem direito a nada. Onde um individuo
vira uma comunidade e infelizmente passa a ser uma comunidade sem indivíduos.
Depois de muito tempo entendi que isto não é propriamente o
que a Palavra de Deus sugere. Todavia, com certeza a vida em comunhão entre os
irmãos da Igreja Primitiva foi a primeira expressão da vida de Deus e de Sua
Igreja aqui na terra.
Como então entender a forma correta de viver este tipo de
vida em comum? Tomando por base o texto abaixo (o mesmo texto pelo qual são
criadas “as comunidades”).
“E perseveravam… na comunhão. Todos os que creram estavam
juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
Diariamente perseveravam unânimes… partiam pão de casa em casa, e tomavam as
suas refeições com alegria e singeleza de coração… Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (Atos 2:42,44-47)
Quando olhamos para os relatos bíblicos não vemos nenhuma
menção de grandes campanhas evangelísticas, vemos apenas a Igreja vivendo na
prática uma vida comum, como um corpo. Foi exatamente isso que o Senhor Jesus
havia previsto em João 17:21: “Para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em
mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu
me enviaste.”
O mundo reconhecia a realidade da vida que unia aqueles
irmãos, não apenas na teoria mas na vida prática, sendo assim, muitos iam sendo
acrescentados no “novo estilo de vida”. Pois, o maior testemunho da Igreja não
esta naquilo que ela prega e sim naquilo que ela vive.
As pessoas em geral não se impressionariam com os nossos
cultos evangelísticos, com grande milagres de cura, todavia ficariam impactadas
em ver o grande milagre que é irmãos tão diferentes vivendo juntos na vida
comum. As pessoas quando deparavam com os primeiros cristãos encontravam
naquele tipo de vida a própria vida de Jesus.
A pregação geralmente começava através de um encontro casual
na rua. Não era necessário fazer nenhum tipo de campanha, nenhum tipo de
fórmula mágica, cursos ou outra estratégia para alcançar aos perdidos, pois as
obras daqueles irmãos era uma declaração que Deus estava com eles, e foi o
testemunho dessa verdade que espalhou o evangelho rapidamente.
Eles tinham a Cruz de Cristo como fundamento e base da sua
fé, sabiam que a cruz que lhes foi proposta para o seu dia a dia, abrindo mão
de seus interesses, submetendo-se totalmente a vontade deles ao Senhorio do
Senhor, era a única forma de manter na prática este tipo de vida. A Cruz de
Cristo abre o caminho para nossa comunhão com o Pai e com os nossos irmãos.
Como essa vida em comunidade se expressava na prática diária
daquele povo estranho:
1 – PARTIAM O PÃO DE CASA EM CASA
Isso não significava um pedaço de pão passando de mão em mão
sem nenhuma revelação do corpo num domingo qualquer. Era uma refeição de um
grupo de pessoas com um senso em comum: Jesus Cristo como centro de tudo.
Uma coisa importante a ser observada era que cada um possuía
sua própria casa; mantinham sua identidade e a intimidade com sua família. É
justamente neste ponto que muitos erram e muitas experiências de vida em
comunidade se tornam um fracasso com marcas e feridas.
Vida em comunidade não é necessariamente um “amontoado” de
pessoas vivendo na mesma casa ou no mesmo “terreno”. Mas é um estado de
comunhão e dependência contínua que não depende do lugar onde vivemos. A
verdadeira comunidade de Cristo não destrói a família, pelo contrário, a
verdadeira comunidade protege a família.
2 – E VENDIAM SUAS PROPRIEDADES E BENS E OS REPARTIAM POR
TODOS, SEGUNDO A NECESSIDADE DE CADA UM.
A venda de todos os bens não era uma coisa obrigatória, pois
vemos em Atos 2:46, que as pessoas continuavam morando em suas próprias casas.
Em Atos 5:4, quando Ananias e Safira vieram depositar o dinheiro aos pés dos
apóstolos, Pedro disse: “Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido,
não estaria em teu poder?” Os proprietários de casas e terrenos (plural)
vendiam aquilo que não lhes era necessário para repartir com irmãos
necessitados.
Você compreende agora por que a Igreja caiu na graça de todo
o povo? Viam na prática o amor que eles confessavam com a boca.
3 – E TINHAM TUDO EM COMUM
“Da multidão dos que creram era um o coração e a alma.
Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo,
porém, lhes era comum. Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da
ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.” (Atos
4:32-33)
Isto é o Reino de Deus; é a vontade de Deus sendo feita na
terra como é feita no céu.
As propriedades particulares não eram substituídas por um
bolo comum. Antes, cada um procedia como fiel mordomo daquilo que possuía,
depois de vender o excedente, fazia como o Mestre, usava o que sobrava para o
bem de todos.
O primeiro sinal de uma Nova Criatura é o amor que se
manifesta através da vida em comum.
4 – TODOS OS QUE CRERAM ESTAVAM JUNTOS
Eles não tentavam produzir amor e unanimidade; pelo batismo
do Espírito Santo já os possuíam. Bastava-os manifestar externamente o que já
tinham interiormente.
A Igreja Primitiva se destacava pela maneira de viver, pois
este estilo de vida era completamente diferente dos demais habitantes de
Jerusalém. Este é o verdadeiro funcionamento do corpo, em que há uma expressão de
vida em comum todos os dias, e não apenas aos domingos ou em ocasiões
especiais.
“Muitos sinais e maravilhas eram realizadas entre o povo
pelas mãos dos apóstolos. E todos os que creram costumavam reunir-se, em
comunhão, junto ao Pórtico de Salomão.” (Atos 5:12)
Esses irmãos se encontravam no final de seus afazeres diários
neste local e ali compartilhavam, conversavam, e simplesmente passavam tempo
juntos. O resto da cidade de Jerusalém observava a Igreja vivendo publicamente,
amando publicamente, e ministrando publicamente; havia sentimentos diferentes
entre esses observadores; ou não ousavam ajuntar-se a eles pelo poder que havia
no seu meio, ou então procuravam saber como poderiam fazer parte daquela
comunidade estranha.
“Vocês são uma colônia do céu”, disse o apóstolo Paulo em
Filipenses 3:20 (no Grego), usando a tipologia de uma conquista romana. Quando
Roma conquistava uma província, ela estabelecia uma colônia neste território
estranho, que era governada por Roma, que vivia como Roma e que se tornava uma
Roma em miniatura. Era o penhor da possessão e ocupação completa pelo reino
romano.
Jesus também já venceu! Satanás esta derrotado e Jesus foi
coroado. Dele é o reino, o poder e a glória, e ele também já estabeleceu sua
colônia, sua própria igreja, no território conquistado. Esse povo que vive como
se vive no céu, são governados pelo céu, e na realidade são a própria
demostração e penhor do Reino dos Céus na terra. Deles é o encargo de possuir
tudo aquilo que seu Rei e Senhor comprou com alto preço.
Queridos (as), a vida em comunidade não é uma novidade, nem a
última moda lançada por algum estilista gospel. É o corpo de Cristo funcionando
de acordo com a Palavra de Deus.
Oswaldo Pinho
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